Psicomotricidade – parte 2

Parte 2-   Coordenação motora

A coordenação motora é a ação sinérgica do Sistema Nervoso Central e da musculatura esquelética dentro de uma determinada seqüência de movimentos (Hollmann & Hettinger apud Pereira, 1996). Turvey (1990) define a coordenação como a padronização dos movimentos do corpo e dos membros relativamente à padronização dos eventos e objetivos do ambiente.

De acordo com Meinel & Schnabel (1984) e Teixeira (2006), coordenação na atividade do ser humano é a harmonização de todos os processos parciais do ato motor em vista do objetivo, da meta a ser alcançada pela execução do movimento.

A importância desta capacidade, segundo Mazo et al. (2004), dá-se no sentido de permitir ao indivíduo assumir a consciência da execução dos movimentos, levando-o ao encontro de uma integração progressiva de aquisições e favorecendo uma ação dos diversos grupos musculares, com vistas à realização de uma seqüência de movimentos com o máximo de eficiência e economia. Pereira (1996) complementa que quanto melhor for a qualidade de coordenação, mais fácil e preciso será o movimento.

Barbanti (1990) distingue duas áreas da coordenação motora: fina e grossa. A primeira é a capacidade de executar movimentos consecutivos das mãos, pés em tarefas motoras finas (escrever, costurar, pintar, etc.), já a segunda trata-se da capacidade de executar movimentos consecutivos e com grandes amplitudes. Teixeira (2006) vai ao encontro dessa idéia e salienta que as capacidades grossas (amplas) possuem características opostas às finas por exigirem a contração de grandes grupos musculares no desempenho dos movimentos globais.

Mazo et al. (2004) destacam que a coordenação é a base para o aprendizado sensório-motor e facilita a aprendizagem e correção de movimentos novos e automatizados. Ainda, a autora coloca que a coordenação depende de outros elementos da aptidão física e de suas interações, como força, velocidade, resistência, flexibilidade, equilíbrio.

Estudos têm investigado a importância do desenvolvimento da coordenação motora ampla e fina com populações diversas, através da prática de atividades físicas ou exercícios físicos, revelando resultados satisfatórios nessas variáveis para indivíduos fisicamente ativos (Contreira et al., 2007; Corazza et al., 2007; Katzer et al. 2008).

Bom desenvolvimento da Coordenação Motora ocasiona efeitos benéficos à sua saúde.

   Propriocepção

A propriocepção envolve a identificação senso-receptora das características de movimento do corpo e dos membros. Refere-se também à capacidade do sistema sensorial de captar sinais gerados pelo corpo de um indivíduo, através de receptores localizados internamente no organismo (Magill, 1998;Teixeira, 2006).

Segundo Paixão (1981), é uma fonte importante de feedback chamada também de retroalimentação intrínseca, ela é uma conseqüência natural do próprio movimento. A autora também a define como cinestesia e acredita que esta provém de vários receptores sensoriais presentes nos músculos e articulações informando da força e velocidade do movimento e da posição do corpo no espaço.

Schmidt & Wrisberg (2001) complementam ao colocarem que os termos cinestesia e propriocepção são hoje utilizados quase como sinônimos, pois se referem ao conjunto de informação sensorial interna do controle da ação. Os autores ainda definem a cinestesia como o sentido ou a consciência que temos dos movimentos de nossas articulações e a tensão em nossos músculos durante a atividade motora. Já Deshpande et al (2003), acreditam que é através da cinestesia que se pode mensurar e quantificar a propriocepção.

Quanto aos receptores sensoriais, Mendonça (2005) destaca que eles têm como função assimilar, discernir e interpretar as sensações que o meio provoca e também orientar movimentos e reações realizados pelo organismo, assim como suas posições no espaço.

Schmidt & Wrisberg (2001) corroboram ao afirmarem que na complexa combinação de receptores que captam os estímulos integrados pelo Sistema Nervoso Central encontram-se os fusos musculares, órgãos tendinosos de golgi, aparelho vestibular e receptores cutâneos. Teixeira (2006) acrescenta que pelo fato destes receptores localizarem-se internamente no organismo, ou seja, fora do contato com o ambiente externo, eles são capazes de gerar informações exclusivas sobre a postura e os movimentos do corpo.

De acordo com Haywood & Getchell (2004), o desenvolvimento do sistema cinestésico ou proprioceptivo é importante tanto na manutenção das capacidades físico-motoras necessárias às atividades da vida diária quanto na performance de habilidades esportivas, já que produz informações importantes sobre as posições das partes do corpo relativas umas às outras, sobre a posição do corpo no espaço, sobre as diversas manifestações de movimentos corporais e também sobre a natureza dos objetos com os quais o corpo estabelece contato.

Segundo Wall (apud Deshpande et al., 2003), a propriocepção pode ser afetada em processos de doença, hipocinesia e também com a idade pelo fato de que é um sistema complexo que requer integração da energia sensorial de todos os receptores. Haywood & Getchell (2004) acrescentam que pouco é sabido sobre as mudanças nos processos perceptivos à medida que as pessoas envelhecem, mas se sabe que os decréscimos reduzem a qualidade da informação sensorial que alcança o Sistema Nervoso Central afetando a potencialidade da percepção. Ainda, o declínio proprioceptivo com a idade pode ser uma importante influência no equilíbrio aumentando a suscetibilidade a quedas (Ribeiro & Oliveira, 2007).

    A prática regular de exercícios físicos pode ser uma estratégia benéfica para preservar a propriocepção e prevenir quedas em sujeitos idosos. Muitos estudos têm revelado que a atividade física regular pode atenuar o declínio proprioceptivo e que os níveis de atividade também podem influenciar a propriocepção (Ribeiro & Oliveira, 2007; Petrella et al. 1997).

Petrella et al. (1997) investigaram a propriocepção na articulação do joelho em jovens e idosos ativos e sedentários. Diferenças significativas foram observadas entre jovens e idosos ativos, jovens e idosos sedentários e idosos ativos e sedentários, resultados estes que levaram os autores a concluírem que a propriocepção é diminuída com a idade e que a prática de atividade física pode atenuar esse declínio.

Existem evidências de que o treinamento induz a adaptações morfológicas nos mecanoreceptores envolvidos na propriocepção, tais como a força muscular, ou seja, a melhora da força muscular com o exercício pode melhorar a propriocepção (Ashton-Miller et al.(2001) apud Ribeiro & Oliveira, 2007). Essas evidências são confirmadas por Aydin et al. (2002) que em estudo com mulheres em dois grupos de ginastas e não ginastas, avaliando a propriocepção de tornozelo encontraram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, sugerindo que o treino específico em ginástica tem influência positiva no senso de posição articular do tornozelo e também no equilíbrio.

Corroborando esses achados, Pánics et al.(2008), verificaram programas de treinamento proprioceptivo específico na propriocepção de joelho em dois grupos de atletas profissionais de handebol feminino (experimental e controle) e obtiveram melhoras significativas no grupo experimental após a intervenção, melhoras estas que não ocorreram no grupo controle.